Tradução: Lilian Ribeiro

Já se passaram mais de 4 anos, nos primórdios deste blog da Escola de Autores da Revista Comunicar, já havíamos adiantado no post «Leitura: uma primeira tarefa» que um dos dois erros mais frequentes antes do processo de pesquisa é a ausência de leitura de outras pesquisas relacionadas com o objeto de estudo.  Esta “falta” pode manifestar-se de duas formas: 1. Pela insuficiência de referências e 2. Pela falta de critérios na seleção de documentos.

Ou o primeiro caso ocorre quando um pesquisador não realiza uma busca adequada, ampla e suficiente de documentos científicos, ou simplesmente se contenta com alguns materiais (às vezes desatualizados) para embasar sua pesquisa. Ou o segundo caso, ainda mais comum, ocorre na busca por documentos científicos e disponíveis apenas em buscadores (como Google, Google Scholar ou Bing), ou em bancos de dados e repositórios locais e regionais, o mesmo que busca apenas em espanhol.

Nesta ordem de ideias, para fazer corretamente uma revisão bibliográfica, um pesquisador deve primeiro conhecer o seu tema, ser um leitor interessado, conhecer suas referências, seu percurso histórico, seus principais representantes e referências e, claro, os principais jornais do mundo em sua área.

Em segundo lugar, o pesquisador deve conhecer os termos da pesquisa (em inglês, na linguagem franca da pesquisa) que são mais apropriados, relevantes e usados ​​para se referir ao tópico que deseja pesquisar. Por exemplo, é comum encontrar novos pesquisadores que procuram bancos de dados com palavras que não tem nada a ver com o assunto, mas apenas traduções literais do termo em espanhol.

Conforme os termos de busca especificados, ou o pesquisador deve saber como são realizadas as buscas em bases de dados de referência internacional (Web of Science, Scopus, PubMed …) e os critérios de seleção (por ano, assunto, tipo de documento) e Algoritmos booleanos. Isso nos permitirá revisar as dúvidas emergentes, ler resumos e mapear o estado da questão.

Esse “mapeamento” da literatura científica nos permitirá descobrir as diversas posições epistemológicas e debates que o objeto de pesquisa teve ao longo do tempo, as disciplinas a partir das quais o assunto foi tratado, os tipos, desenhos e âmbitos de pesquisa mais comuns que foram usados ​​para pesquisá-lo e as últimas tendências. É aqui, depois de realizado este exercício, que um pesquisador pode estar pronto para realizar a abordagem de pesquisa.

Redação da revisão da literatura

A revisão da literatura pode ser denominada de diferentes formas: estado da arte, estado da arte, histórico de pesquisa …, mas todos significam a mesma coisa na prática: explicando ao leitor o assunto, suas implicações, suas discussões científicas e, principalmente, os avanços mais significativos.

A revisão da literatura é o alicerce teórico da pesquisa, o que permitirá fundamentar os resultados obtidos e discutir coincidências e / ou divergências na seção de discussão, mas sobretudo demonstrar que a pesquisa proposta é uma efetiva contribuição científica, ou seja, que contribui com novos elementos para compreender e interpretar uma realidade.

Embora existam tópicos que podem ser muito locais ou regionais (como estudos de flamenco ou arquitetura Inca), a maioria dos tópicos nas Ciências Sociais tende a ser de interesse global. Nesse sentido, uma boa escrita da literatura assenta em três pilares: adequação, atualidade, referencialidade. e suficiência

Adequação: Diz respeito à relevância e relação que os estudos citados têm com os objetivos da pesquisa. Se um estudo busca analisar o impacto que o uso da gamificação tem nos adolescentes da educação especial e a revisão da literatura aborda apenas os conceitos, características e importância da gamificação, não será possível, obtidos os resultados, gerar uma discussão de alto nível para avançar nos antecedentes da investigação.

  • Atualidade: Nem todas as ciências e disciplinas avançam no mesmo ritmo, então o conceito de “atualidade” dependerá de cada uma delas. Para citar um exemplo, se temos pesquisas que buscam analisar a influência dos youtubers haul   na decisão de compra ou consumo de produtos cosméticos, a maioria dos estudos que compõem o corpus do estado da questão deve ser atual, ou seja, um máximo dos últimos 5 anos. Se, ao contrário, descobrirmos que a maior parte da revisão da literatura é proveniente dos clássicos do marketing dos anos 1980-1990 (Kottler, Armstrong, Dvoskin …), o estudo será feito com base em referências históricas, mas não sobre os avanços da disciplina.
  • Referencialidade: Este ponto é de especial relevância, uma vez que o universo dos motores de busca, repositórios e bases de dados estão repletos de documentos não científicos, por isso devemos aprender a selecionar. Se basearmos uma investigação em referências de Projetos de Licenciatura (dissertação de graduação), Dissertações de Mestrado (dissertação de mestrado), documentos de alunos, documentos de ensino, manuais, blogs, revistas locais, entre outros, no trabalho faltará suporte científico, na medida em que a maioria desses documentos não passa por um processo de revisão substantiva. Nesse sentido, a maioria do corpus de referências de um artigo deve ser de artigos publicados em periódicos de reconhecido prestígio e impacto, que geralmente são – embora nem em todos os casos – indexados na Web of Science (WoS) e na Scopus.
  • Suficiência: O parâmetro de suficiência refere-se à amplitude da revisão da literatura. Estima-se que para um artigo de pesquisa empírica em Ciências Sociais, uma revisão de literatura suficiente incluiria entre 35 e 40 referências, o que aumenta se for um estudo (teoria fundamentada, estado da arte etc.)
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